Monday, June 02, 2008

Até já

Por causas externas e alheias à minha vontade, mas que têm tudo a ver com a preservação da minha privacidade, este blogue está temporaria ou definitivamente (ainda não decidi) encerrado.
Obrigada

Daniela

Wednesday, April 16, 2008

Na direcção do início

[Foto - Claude B. Tenot]


Presa, acorrentada
À espera, parada
Tão perto do fim
Tão longe de mim

Não preciso do teu sorriso
E muito menos de siso
Talvez perder o juizo
E desaparecer sem aviso

Seja como for
Quero fugir do torno
Sentir a brisa de ar morno
Rasgar da pele a marca da dor.

Tuesday, April 08, 2008

Banda sonora de um longo caminho

Duo Dinámico - Resistiré

"Uma longa viagem começa com um único passo" - Lao Tsé


"o si alguna vez me faltas tú"
Eu e o meu irmão costumávamos dizer que éramos o duo dinâmico.

Thursday, April 03, 2008

Passos

[Foto - Emil Schildt]


Se devolveres o teu abraço
Prometo coragem de aço

Avento o cansaço
Enfrento os dias lassos

Estou de olhos rasos
Atenta ao som dos teus passos.

Tuesday, March 11, 2008

Between


[Foto - Martin Gabór]
Quase à beira do precipício
Descubro que pode não ser a morte
Se abrir as asas e seguir o vento do norte
Posso largar esta vida
De ter nas costas a espada do santo ofício.

Tuesday, February 12, 2008

Momentos Tácteis


[Foto - Fabio Chizzola]


Demasiado longe de qualquer esperança

Os portos de abrigo são frágeis

Fazem-me falta umas mãos hábeis

Dedos de guitarrista, voz quente e mansa

Há quem procure paz, carinho, segurança

Eu invento olhos perdidos e cinturas ágeis.

Thursday, December 20, 2007

Skin

[Foto - Jan Saudek]


Faz-me falta
A tua pele na minha
Grito
Pela fome das tuas mãos
Pelo calor
Incandescente do teu desejo
Quero que me inundes
Me desfaças com um beijo
Preciso da vontade
Na rouquidão da tua voz
Diz-me
Que vamos voltar a ser nós.


Sunday, October 28, 2007

Império das algas

[Foto-Jerry Uelsman]
Imersa de folhas e limos
Isolada no verde fim de praia
Peço ao calor, ao silêncio pesado
Ao cheiro perigoso da maresia
Antes do estalar da trovoada
Que me acorde os sentidos
Estão com maleita, entorpecidos
O chicote do rosa fogo
Ou o encanto tonto do cinza mistério
Qualquer, não quero saber
Tira-me deste lusco fusco mental
Mal parida e não querida
Paz podre emocional.

Thursday, September 06, 2007

Horizontu


[Passion - Rabi Khan]


Tens um lago de paz
No olhar quente encantado
Com que me bebes
Em que me mergulho

Tens um vento envolvente
Na voz quente fervente
Com que me acordas acendes
Prendes e devolves o horizonte.

Diálogos a sós

Sabes, não vi a rua hoje.
Tive medo de pôr um pé lá fora, de sentir uma brisa quente no cabelo, reparar que alguém sorria de um modo especial, de me deixar ir.
Tive medo que alguém me tentasse roubar o coração que não está no meu peito, deixei-o contigo.
Tive medo que a falta de amor me apanhasse desprevenida e me convencesse a deixar o amor da minha vida.

Sem Sombra


[foto - Snvejana Josipovic]


Há um infinito cinzento
Sem o encanto das sombras
Pastam carneiros sem olhos
De patas rombas
O pão tem bolor
E o tomate é farinhento

Neste mundo de limbo
Onde habito
Absolutamente só
Sinto mãos viscosas
Quando peço mimo
E há um grifo tatuado
Que se alimenta de nós.

Thursday, August 16, 2007

A quimera do veado


[veado e pinheiro - Ba Da]




Fechei os olhos em tom cansado
Exausta do sabor amargo
Deixei a mente vogar
Qual a personagem de cinema
Que gostaria de ser agora
Só peço uma sensação amena
A imagem surgiu rápida
Certa e indubitável
O veado da branca de neve
Aquele a quem o caçador
Arranca o coração.

Tuesday, August 07, 2007

O meu rumo és tu


[Foto - Jerry Uelsmann]


Não tenho rota
Parti o leme
Depois de inúmeras derrotas
O meu destino é guiado
Por mão que treme

A minha vida toda
A minha paz, a minha casa
Acontecem quando
Encontro o teu olhar
Repouso no teu peito
Morro no teu abraço

Não vás
Peço, grito
Imploro, exijo
Sou louca, intensa
Pequena, imensa
Inofensiva, letal
Sou o que quiseres
Sou tua, nasço em ti

Mostrei-te um dia
O caminho de volta a casa
Voltaste, chegaste
Fiquei completa

Depois saí, perdi-me
Rasguei-me, feri
Baralhei e encontrei
O que estava ali
E era parte de mim

Deixa-me agora
A mim
Voltar a casa
Estou perdida no deserto
Sem água nem vontade
De mão estendida para ti.

Thursday, August 02, 2007

Sonho Solidão


[Foto-Katarzyna Widmańska]



O bicho de conta
Que um menino guardou
Numa caixa de iogurte vazia
A velha muito tonta
Que o tempo esqueceu
Numa viela escura e fria
O louco friamente lúcido
Que o eminente médico deixou
Sem alta para morrer estúpido
A menina perdida de olhos enormes
Que a mãe largou da mão
Para perseguir um desejo disforme

Todos estes dormem
Comigo na cama
Sem licença nem permissão
Porque tu em tom de quem não ama
Distraído, deste ao tempo uma ordem.

Monday, July 09, 2007

Eu e o meu Mano

Elvis Presley - If I can dream

Quando eu e o meu irmão estávamos tristes íamos buscar a K7 do Elvis, o "King", púnhamos no gravador do carro, o primeiro carro do Ricardo, um opel corsa preto, que andava, andava até deixarmos de ver as bermas e a paisagem dos lados se transformar em raios de luz dissonante.
E cantávamos, gritávamos até que toda a tristeza se evaporasse e descesse sobre nós aquela euforia dos fins de tarde ou amanheceres plenos intensos e completos que dão sentido à vida sem mais nada, a vida pelo milagre que ela é.
E esta música então nunca falhava.
Fazes-me tanta falta mano, que até a alma está esmifrada e encolhida de dor.

Wednesday, July 04, 2007

Ballerina

[ballerina - Gayle Allen]

Descobre-me num

Horizonte iluminado

De laranja ternura

Magnólia carinho

Gosto de me enrolar

Como um caracol

No bolso dos berlindes

De brilhar

Em pontas e mesclado

Muito acima e ao alcance

Da palma da mão.


Tuesday, July 03, 2007

Não se anda de asas com um machado atrás das costas

[Foto - "Ladies orchestra" de Jan Saudek]

Era menina
Vi o esplendor ambar dos guias
Perdi com violência a minha sina
Conheci o deserto cinzento dos dias

Demorei quase vinte anos
A não esperar, a não confiar, a não sonhar

E vieste
Chegaste
Doce, terno
Escondeste
O agreste

Estendeste a mão
Proibiste o senão
Construiste um castelo
Ignoraste o flagelo

E acima de tudo
Deixaste-me sonhar
Acreditar de coração puro
Que ainda podia amar

Se ainda conseguisse ao fim de tanto tempo, voltava
A odiar, a sentir sede de rasgar, ganas de matar

Mas estou apenas
Paralisada de dor
Perplexa de desamor
Num deserto de sangue e penas.

Sunday, July 01, 2007

Balla - O Fim Da Luta

Este é para o Vasquinho que foi morar para uma estrela há um mês e que faz tanta falta a tantos.
A ti que num relance rápido de olhar me entendeste como muito poucos.
Saudade

Tuesday, June 26, 2007

Destaque Cupido, Fonte de Amor


A maluca responsável destacou-me para Fonte de Amor e eu fiquei muito contente, porque é a distinção mais importante que nos podem oferecer quando escrevemos com amor.
E, também, por ter sido esta menina a destacar-me, pela intensidade, genuinidade, qualidade e, claro, pelo amor com que escreve. A ela um obrigado sincero.
Os meus destaques são-no porque os sinto na pele como fonte de amor em diferentes e diversas acepções.

abstracto concreto
brinco de palavras
curtas
exorcismos
in the meadow
o grito do silêncio
Olhar Xbugalhado pela Xtranheza
poetas amigos
por aqui
principios e fins

Tuesday, June 12, 2007

Saudade das Brumas

[Foto-Katarina Sokolova]


Tenho saudades da penumbra
Nas tardes daquele Agosto
Que ainda desconhecia
As sombras do desgosto
Se ainda soubesse invocá-la pedia
À bruxinha com alma, uma macumba
E ao vento, o tom maior em que ele assobia
Para entrar na espiral
Que me pousasse na humidade
Quente dos teus olhos
Espelho transversal
De desejo
Raiz sôfrega de pele
Dá-me um sono transpirado de mel.

Friday, May 25, 2007

Carvão púrpura

[foto - Lilya Corneli]

Atravessaste-me ao meio

com uma dor lacinante

que me paralisou o peito

na eternidade de um instante

marcaste-me o destino

com um risco rasgado a carvão

boneca de trapos prostrada sem tino

ouvi surpresa o som fúnebre e seco

com que se parte um coração.


Thursday, April 26, 2007

Confesso




És contas

de rosário antigo

que deslizam

pelo céu da minha boca

com sabor

de pecado não nomeado.

Friday, April 20, 2007

bell-fire

Dezenas de manchinhas cinzentas espalhadas pelo corpo.
Terror, agonia, a hipo a invadir-me o cérebro outra vez.
Até que reparo...
Algumas, as que estão mais perto da cintura, têm um tom
Violeta arroxeado e...
Sinto, o pulsar de vida que me invade
Quando me pedes a magia
De me transformar de anjo alvo em amora negra.

Wednesday, April 18, 2007

Metrónomo Melífluo




Tenho uma noção

tântrica e despassarada

do meu tempo contigo.


Uma estalada de ilusão

maré viva alvoraçada

crepúsculo perdido de paixão.

Monday, April 16, 2007

É urgente




uma manhã sem medo
um futuro sem peso
um dia sem passado
um agora iluminado
um passo sem dúvidas
um andar de pernas lúcidas.

Thursday, March 29, 2007

Hasta Siempre Comandante



Estou num sítio muito perto do fim do mundo, dou mais três ou quarto passos e lá está – a porta verde coberta de ervinhas trepadeiras e salpicada de violetas a atirar mais para o amarelo.
Desde sempre que o soube, o caminho. Aprendi muito cedo que é fácil demais chegar lá, o complicado, o mistério é conhecer o momento certo, o toque de clarividência que nos permite distinguir que naquele segundo de eternidade a porta dará acesso a uma infinitude de novos e vertiginosos mundos.
Por enquanto, sempre que desce a nuvem lilás, sou lançada no meu calvário privado em que verifico que, para lá, ainda só existe o vazio imenso que ultrapassa a dor das minhas entranhas.
Fecho a porta, volto atrás e sigo mais uma vez o caminho das aves de arribação.
Um dia voltaremos a ser um, até lá aprendo a seguir o meu caminho sozinha e tento inventar um sorriso novo.

Monday, November 27, 2006

Mario Cesariny 1923 - 2006

Serigrafia de Mário Cesariny - 1997

"Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca"
"Faz-se luz pelo processo" - Mário Cesariny

Thursday, June 22, 2006

A meio caminho

[Foto: Yoyce Tenesson]
Estou parada, paradinha
à espera
que me iluminem o caminho
preciso saber
onde é
em frente e voltar atrás
as águas límpidas e o pântano
à espera.